Voltando do trabalho irritado, inquieto, tentando esfriar a mente
Pouca gente no trajeto,
Feriado na cidade e eu trampando feito um corno
Fui tomar uma dose pra tirar o azar do couro
No boteco um senhor veio me atender:
- “Diz, meu garoto, o que é que você vai querer?”
Uma bem gelada e na sequência uma ‘maria’
Esperando o drink, reparei no que acontecia...
Na mesa ao lado, um tiozinho pálido e com cara de cansado,
O cara parecia desolado
Sobre dez garrafas debruçado, disse que a esposa o havia abandonado
Na outra mesa bem no canto uma balzaquiana,
Piscou pra mim matando uma dose de cana
Jogou em minha direção um guardanapo e disse que comigo queria ter um papo...
O senhor trouxe minha cerva e um cinzeiro abarrotado de bitucas
Disse que as pontas do cigarro lhe serviam no combate contra ratos (Com elas era feito o veneno pra arapuca)
E a tal donzela, que figura
Logo vi que ali tinha uma fera insaciável cheia de ternura
Pois nesse mundo sem doçura,
Somente o amor pra consolar as perdas de uma vida dura
Me aproximei e logo perguntei seu nome
Ela sorriu com dente sujo de batom:
- "Me chamo Ivone. Me diz o que é que você tem pra mim?
Te levo pra minha casa, nossa noite não tem fim."
Eu disse à ela que só estava de passagem,
Vou tomar meu drink e seguir minha viagem
Mas meus hormônios são como demônios
Ela pede outra e agradece à Sto. Antônio...
Sentei de frente à ela e dei um gole na bebida
Mole e deprimida ela estava antes
Se encheu de vida, toda insinuante
Na Jukebox tava rolando um Guilherme Arantes
Bem devagar foi que me envolvi
Um brilho em seu olhar que foi difícil resistir
Sem pernas pra fugir,
Internamente eu era um vulcão e tava prestes a explodir
Mas pedi licença e fui até o banheiro,
Não era mais solteiro então tinha que me conter por inteiro
Como combater o desespero contra o poder de um santo casamenteiro?
Voltei, olhei pra mesa, ela não estava
Pergunto pra o senhor onde a donzela se encontrava
- "Ela foi embora junto com aquele tio...
Você não sorriu pra vida quando a vida lhe sorriu..."
Por aí vou vagar nesse espetáculo que é a vida
E dela eu devo aprender...
Eu vou bem devagar...
Sem vacilar... Deixa eu viver...
=)
Contra-Fluxo
Keep It Real...